ESTUDO & ANÁLISE |
Nicholas Merlone
“Marchas contra Trump lideradas por mulheres reúnem mais de 2 milhões”. Esta última é a manchete em destaque do Estado de S. Paulo,
deste domingo, 22 de janeiro de 2017. O presidente eleito não só não
agradou à parcela considerável do povo americano, como também na
política externa pode desagradar a vários países, dentre os quais o
Brasil.
O legado de Barack Obama se encontra ameaçado por Donald Trump. O
presidente atual pretende acabar com boa parte das conquistas do
antecessor. No plano externo, ameaça acabar com conquistas de Obama.
Dentre os temas, especialmente, o entendimento com Irã e Cuba, e não
atender o que foi prometido sobre mudanças climáticas. Deste modo,
pretende renegociar os termos com Teerã e Havana. (cf. Carlos Eduardo
Lins da Silva. O legado de Obama. Valor – EU & Fim de Semana. 13 de jun / 2017).
Neste ponto, trazemos os 5 principais assuntos de ameaça à democracia
protagonizados por Donald Trump: 1) ataque à imprensa e divulgação de
notícias falsas; 2) desprezo por ritos democráticos; 3) tentativa de
deslegitimar as agências governamentais; 4) conflitos de interesse e
falta de transparência; 5) a personalidade agressiva e intolerante. (cf.
Nathalia Watkins. E agora, Democracia? . Veja. 25 de jan / 2017).
Não bastassem os ataques do presidente à democracia, na economia
internacional, o “Brasil pode ser afetado por alta na taxa de juros”, de
acordo com a matéria do Estado de S. Paulo, da mesma edição,
“Provavelmente, o governo Trump ignorará o País, mas protecionismo é uma ameaça”. Nesta direção, Peter Hakim afirma: “Não vejo como o Brasil poderá ser
relevante e não espero que muita coisa seja feita antes da eleição do
sucessor de (Michel) Temer.”
Igualmente, na mesma edição do jornal, para corroborar o anacronismo de Trump, o movimento conservador dos Estados Unidos, Tea Party, adotou Trump: “Movimento criado como resposta ao governo Obama viu em magnata chance de se fortalecer”.
Portanto, no campo da política externa, os Estados Unidos podem se
distanciar do Brasil. Os EUA podem adotar medidas protecionistas que
prejudiquem suas relações, inclusive, com o nosso País. Na realidade, o
cenário internacional é incerto. Não temos como saber ainda como de fato
as coisas vão se desenrolar. Esperemos que Trump aja com sensatez e
prudência, em detrimento de sua postura autoritária e intolerante. Caso
contrário, corremos o risco de abandonar o Estado Normativo (regido pela Lei), para a materialização concreta do Estado Discricionário (com margem a juízo de oportunidade, margem livre de manobra pelas autoridades), isto é, mergulharíamos em um Estado de Exceção
mesmo. É preciso diálogo entre as partes. Ou se estabelece um diálogo
racional, buscando a convivência harmoniosa, ou as consequências não
serão as melhores. O Brasil não é o único que pode sair perdendo. As
economias emergentes igualmente vão poder sofrer com isso. E, por fim, o
próprio Estados Unidos pode não ter sucesso em suas atividades
políticas, econômicas e sociais. Nesta peça de teatro, deste modo, todos
saem perdendo e, ao final, teríamos, assim, na verdade, uma Ópera.