Blog Desmistificando a Oratória com Dicas Práticas
Por Maria do Carmo Carrasco
“A arte de falar em público – difícil entre todas – é talvez a que menos se estuda.” (Henri Maurice)
Dentre
as qualificações profissionais, a capacidade de comunicar-se de forma eficaz
apresenta-se como uma das principais características solicitadas nas grandes
corporações. Falar bem, com segurança, elegância e naturalidade em qualquer
situação é imprescindível.
A
capacidade de comunicar-se preexiste nas mais diversas situações, sejam formais
ou informais: palestras, vendas, entrevistas, liderança, reuniões, aulas,
negociações, telemarketing, contatos sociais, treinamentos, discursos, tribunal
do júri, sustentações orais, atendimentos clínicos, atendimentos terapêuticos e
em todos os momentos da vida em que o processo comunicacional eficiente é
fundamental.
Desta
forma, pode-se afirmar que, a comunicação interindividual e a performance
comunicacional eficaz são necessárias em todos os aspectos da vida – desde o
profissional até o afetivo.
Assim,
o aprimoramento do processo comunicativo é recomendado a todos que se
interessam pelo desenvolvimento de sua comunicação pessoal e profissional,
facilitando a formação do marketing pessoal e comunicacional, a utilização de
linguagem ‘persuasiva’, comunicação não violenta, acolhimento diferenciado,
negociação e influência de pessoas.
Um
estudo bastante praticado e divulgado é sobre “Oratória”. Embasamento de
fundamental importância para as tarefas de falar em público. O termo
originou-se do latim ‘oratoria’ e
significa a arte de falar ao/em público. Esse termo é bastante antigo, e traz
consigo outros dois termos: eloquência e retórica. Pode-se afirmar que a Oratória é a
aplicação da teoria da retórica e os princípios da eloquência.
O
termo eloquência deriva do latim eloquentia e refere-se à fala na sua dimensão
prática. É a arte de falar e se exprimir com facilidade e naturalidade, com
intenção de persuadir. A eloquência era, naquele tempo, instrumento de
influência política e por isso, o conceito e seu treinamento prático
expandiu-se rapidamente.
Já
o termo retórica é originário do grego rhetorike e se refere ao conjunto de
regras teóricas relativas à capacidade de eloquência, ou seja, é a arte de
exprimir-se, de expressar-se pela palavra. Como disciplina, a retórica
apresenta como um sistema das formas de pensamento e de linguagem que devem ser
conscientemente utilizadas. A arte retórica mais renomada que se conhece é a de
Aristóteles, publicada entre 384 a.C. e 322 a.C.
Até
o século VI a.C., a arte de falar em público era considerada dom natural e
privilégio de poucas pessoas. E na metade do século V a.C., a eloquência já era
considerada uma capacidade que podia ser adquirida e desenvolvida por meio de
estudo e treinamento.
O
primeiro manual sobre a retórica (a “arte de discursar”) de que temos notícia
surgiu em Siracusa, na Sicília, em 465 a.C.; os autores chamavam-se Córax e
Tísias. Para Aristóteles, a retórica era a “arte de persuadir, através da
palavra. Hoje o termo retórica foi banalizado, assumindo um sentido pejorativo,
como normalmente utilizado pela imprensa, por exemplo, quando se refere às
promessas de políticos, ‘como tudo não passa de retórica’.
Como
os grandes oradores do passado tinham a necessidade de elaborar longas falas,
para grandes audiências, instituíram a divisão do discurso proposta por Córax
de Siracusa:
Exórdio
– para chamar a atenção
Enunciação
– apresentação da tese
Exposição
– exposição das razões
Confirmação
– repisamento das razões
Peroração
ou Epílogo – fechamento do discurso
Demóstenes,
foi considerado o maior orador da Antiguidade. Ele viveu em 384 a.C. Interessante
comentar que ele é considerado um exemplo de empenho e dedicação. Demóstenes
sempre foi considerado um homem de pouco gênio natural, e sua habilidade ao
falar se deve ao trabalho e à diligência. Passou a ensaiar a voz e os gestos.
Estudou com tamanha determinação que, para não sair de casa, raspou metade da
cabeça.
Já
no fim do século XIX, surgiram várias escolas de oratória, retórica e arte
dramática com o objetivo de ensinar aos juristas, aos políticos e aos atores.
No
princípio do século XXI, a velha retórica artificial começou a ser substituída
pela tendência de utilizar princípios retóricos nas composições e no discurso,
que se divide em três partes:
Exórdio
ou início
Exposição
ou meio
Peroração
ou fim
No
entanto, a retórica, além de persuadir, tem o objetivo de fazer a ordenação da
fala nas suas diversas etapas, desde o início até a conclusão.
Embora
alguns já tenham facilidade de expressar-se, de falar ao/em público, ordenar e
delegar tarefas, negociar, participar de eventos e apresentações, todos podemos
aprender com a oratória. E, tomando como referência as necessidades do homem
moderno proponho o aprendizado da Oratória Contemporânea.
A
Oratória Contemporânea (oratória + fonoaudiologia + visagismo + linguística +
andragogia), tem sua origem nos estudos que me dediquei nos últimos 25 anos com
a intersecção das ciências que contribuem para o aperfeiçoamento e aprimoramento
do homem comunicativo.
Assim,
segue informações relevantes sobre as ciências aqui utilizadas para compor a
Oratória Contemporânea.
Desta
forma, objetiva-se a aplicabilidade das premissas e regras da oratória
tradicional, os estudos da retórica e eloquência atualizadas, tomando como
referência o mundo contemporâneo e o homem nas suas diversas atribuições.
Já
a aplicabilidade da Fonoaudiologia, ciência que se dedica a estudar a comunicação
e seus distúrbios e que apresenta um arcabouço teórico-prático para o “bem
falar e convencer”. Por esta ciência é possível realizar o aprimoramento e a
mudança de comportamento comunicacional, por meio do uso correto dos aspectos
comunicacionais: discurso (ordenação didática da informação), voz, dicção
(articulação dos sons da fala), vocabulário (recursos e aspectos linguísticos),
expressão e linguagem corporal (expressão facial, meneios de cabeça, gestos
representativos e indicativos, movimentos dos olhos) e o saber ouvir e escutar,
aspectos esses, que embalam a organização do discurso e informações.
O
visagismo, palavra originária do francês 'visage' (rosto, em francês), foi
formalizada no Brasil por Phillip Hallawel. Estudiosa desde 2007 e primeira
Fonoaudióloga Visagista utilizo esta ferramenta para auxiliar no
desenvolvimento da linguagem visual, a análise física do rosto, da
personalidade e do comportamento para adequar a imagem e estilo pessoal, a
indumentária, a linguagem verbal e não verbal em um processo integrado.
A
Linguística, contribui com o estudo da fonética, estudo dos sons empregados; da
sintaxe, estudo da combinação das palavras; da semântica, estudo dos sentidos
das palavras e o que provoca no interlocutor; da pragmática, estudo das
oralizações e análise do discurso. Com esse campo da linguística e da
comunicação se objetiva de maneira prática a análise da construção do discurso,
considerando contexto-histórico-social (ambiente corporativo) e condições de
produção (cenário, situação, reação, comportamento etc).
E
a Andragogia que é a arte e a ciência de ensino e aprendizagem de adultos, a
qual tem como objetivo promover a mudança de comportamento e aquisição de
competências técnicas. Por meio dessa metodologia é possível aplicar técnicas
práticas e inovadoras.
Com
a contribuição destas ciências e de outros temas recentes, como por exemplo,
estudos da mediação, da gestão de conflitos, do Projeto de Negociação de
Harvard, da comunicação não violenta (estudos de Marshall B. Rosenberg), expressividade
e linguagem corporal (estudos de Paul Eckiman), dentre outras temáticas, é
possível delinear de forma sistematizada a divisão do discurso em três partes
facilitadas: introdução (acolhimento e preparação do ouvinte), desenvolvimento
(conceituação e aplicabilidade) e conclusão (resumo e finalização).
A
Introdução é o momento de acolhimento dos ouvintes e preparação da audiência. É
o momento crucial para desenvolver uma primeira boa impressão. Neste momento
demonstrar empatia e simpatia é fundamental. Para facilitar o começo pode-se
realizar um cumprimento, um elogio sincero, demonstrar a satisfação de participar
e falar sobre o tema proposto e realizar uma breve apresentação revelando a sua
autoridade no assunto. Em seguida, é hora de sinalizar como pretende abordar o
tema proposto, sua importância, demonstrando os tópicos e a sequência lógica
que será utilizada. Para melhor divisão do conteúdo deve-se utilizar 15% do
tempo para esta etapa.
Já
o desenvolvimento do tema, é a fase de apresentação do assunto central,
abordando sua conceituação e seus doutrinadores, autores, personalidades de
referência. Deve-se ainda apresentar exemplos, cases, estatísticas e histórias
vividas para auxiliar no convencimento e credibilidade sobre a temática
abordada. Esta fase deve utilizar 75 % do tempo da exposição.
Sabendo-se
que em momentos de exposição e participação pelos ouvintes, ocorre o
aparecimento das perguntas e objeções, situação corriqueira e de fácil
tratamento. Desta forma, o orador deve pensar nas possíveis perguntas e preparar
as suas repostas. Em relação as objeções, o orador deve providenciar os
argumentos e justificativas para adiantá-las durante a sua explanação, assim é
possível mitigar o aparecimento destas intervenções que podem colocar o orador
despreparado em situação constrangedora. Nesta medida, se pode contornar
possível resistência por parte dos ouvintes, auxiliando no convencimento.
A
Conclusão, assim como a introdução, apesar de utilizarem menor tempo na íntegra
da exposição é um momento importante. Esta parte destina-se a reforçar os pontos
principais do discurso por meio de uma breve recapitulação, ou seja, resumir o
assunto, com vistas a fazer com que os ouvintes reflitam, aprimorem e/ou mudem
o comportamento com base nas propostas do orador. É importante que o público
compreenda o teor da mensagem e possa realizar a aplicabilidade imediata. O
orador precisar utilizar nesta etapa 10% do tempo de exposição para realizar o
fechamento do discurso.
No
entanto, apresentar um discurso bem organizado e cheio de informações
relevantes não é suficiente. É necessário embalar este discurso com o uso
adequado dos aspectos comunicacionais: discurso (ordenação didática da
informação), voz, dicção (articulação dos sons da fala), vocabulário (recursos
e aspectos linguísticos), expressão e linguagem corporal (expressão facial,
meneios de cabeça, gestos representativos e indicativos, movimentos dos olhos)
e o saber ouvir e escutar.
Assim
no próximo Artigo “A Importância dos Aspectos Comunicacionais no Discurso”
abordarei técnicas e estratégias práticas para você envolver e contribuir
verdadeiramente com a sua audiência
Um grande abraço.
Sucesso sempre!!